quinta-feira, 31 de março de 2011

Intolerância

    É estarrecedora a forma como se portou o deputado Jair Bolsonaro, que é integrante da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, no programa CQC, na última segunda-feira. A Constituição, em seu artigo primeiro, elenca os princípios que regeram a sua redação; dentre eles, a dignidade da pessoa humana. Sendo assim, um deputado – que, constitucionalmente, tem a função de zelar pelo cumprimento da Carta Magna – falhou gravemente em sua função. Suas palavras demonstram um sentimento de superioridade em relação à raça negra, tem nuances de um neonazismo debochado que ataca sabendo que não haverá punições. Em sua resposta à cantora Preta Gil, associou a raça negra à promiscuidade, além de ter ofendido a família da cantora:

                  Preta Gil: Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?
                 
                  Bolsonaro: Preta, não vou discutir promiscuidade com quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu.

                  A honrada família baiana, da qual Preta Gil faz parte, é encabeçada por Gilberto Gil, um homem de mente livre, destituído de preconceitos, um artista que muito acrescentou à cultura brasileira. A formação familiar de Preta Gil foi, indubitavelmente, mais sólida que a que tem o filho de Bolsonaro. As idiossincrasias da cantora são um capítulo à parte e devem ser respeitadas, o que não se pode negar é que o discurso dela, nas muitas vezes em que ela vem ao público, é agregador, percebe-se um sentimento de amor que transborda, uma vontade de ser feliz, algo que inspira. O sentimento produzido pelas palavras do deputado devem ter ferido muita gente. Em mim, causou um misto de revolta e nojo. O pior é ter certeza de que, daqui a alguns dias, ninguém mais falará no assunto, e os deputados continuarão se lixando conosco, os “eleitolos”.