Ela saiu à procura de fortes emoções, não importariam as consequências. Afinal, viver é muito mais que respirar. Correr riscos é uma excelente forma de se sentir viva, além de ser uma necessidade intrínseca à natureza humana.
“Esmalte vermelho, tinta no cabelo, os pés no salto alto, cheios de desejo...” – até parece música, era assim que ela se sentia. Não só os pés cheios de desejo, todo o corpo fervia. Resolvera ir ao local mais badalado do momento; onde estariam, na opinião dela, os homens mais bonitos. Quis ir de táxi, se esbaldaria de todas as formas, não seria prudente dirigir na volta. Não ofereceria resistência, nada de se colocar em posição de superioridade, aquele que usasse as armas certas e a soubesse seduzir, teria a mais louca noite. Ela não suportava a ideia de se envolver com homens baixos, então apenas uma coisa era essencial: um metro e oitenta de altura, no mínimo. Os muito gordos também não eram bem vindos.
Chegando, elegantemente, portou-se. Olhou para todos os lados e se sentiu no lugar certo, havia bastantes homens bonitos. As mulheres estavam muito básicas, ela era a melhor. Começou a observar os homens.
O primeiro estava com amigos, um comportamento sério, vestido com camisa de botão de cor escura e usava um belo par de óculos. Começou a olhá-lo com mais frequência, os gestos e a postura com que se colocava na cadeira era algo imprescionante; nada, contudo, é perfeito. Disfarçadamente, ele levou o dedo ao nariz e o rodou na fossa nasal como um boçal; desceu o dedo, imaginado não ser observado, passou-o na parte de baixo da cadeira. Nada pior poderia ter acontecido, higiene é o mínino que se espera de um homem.
Ela virou o corpo e deparou-se com um garotão, deveria ter uns vinte e cinco anos. Braços torneados, dançando bem e muito animado, centro da atenção de muitos, possivelmente o mais querido da galera. Resolve, então, aproximar-se dele. Dançou de forma a encantá-lo e conseguiu, em menos de três minutos, lá estava ele ao lado dela. Chegou e sorriu, dentes brancos e bem alinhados. Bastou um “boa noite” para que ela percebesse que aquela voz era maravilhosa. Imaginou mil coisas, principalmente escutar, em um momento íntimo, daquela voz, poesias ao pé do ouvido. A conversa se estendeu por mais alguns minutos; quando ele disse uma asneira sem precedentes. Não há nada mais aterrorizador que um erro de concordância. O encanto se quebrou!
Não era, ainda, momento de desistir. A noite mal começara, algo de bom deveria acontecer. Pensando estar muito sóbria, resolveu beber algo diferente: um bom uísque a faria ser menos exigente. Afinal, não estava ela ali à procura de um príncipe encantado e sim de um homem que, não sendo um sapo, pudesse proporcioná-la momentos de prazer. Foi então que, já um pouco alterada pela bebida, começou a dançar freneticamente. Seu corpo, mal coberto pelo minúsculo vestido, captou todos os olhares. Dois homens começaram a dançar ao lado dela, passando a mão por suas curvas e a deixando louca. Ela pensou ter encontrado o que queria, em dose dupla. Animada pelas belas companhias, dançou mais perto dos dois; provocando-os com olhares, gestos e toques. O dedinho indicador no canto da boca era infalível. Algo estava errado, ainda que fossem excelentes dançando, uma reação não ocorrera em ambos: o tão esperado volume anatômico. A essa altura da noite, muitos casais haviam se formado, e ela ali estava com dois homens, que não valiam por um.
Decidiu então se acabar na bebida e na dança, não perderia a noite pelo fato de não ter encontrado o que queria. Às quatro da madrugada, resolveu voltar para casa. A dupla de amigos a deixou na porta do prédio e se despediram dela com um beijinho na bochecha e um forte aperto de mão.
Estava ela ali, em frente ao seu espelho, testemunha de tantas promessas de prazer, agora testemunha da decepção: uma mulher bonita, inteligente e sozinha.