segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Saudade



O coração é mesmo uma terra de frutíferas surpresas.
Em um dia estar-se livre; noutro, irresistivelmente amarrado.
Essas amarras, no entanto, são leves.
São feitas de um fino doce e de alegria.
Palavras são insuficientes para expressar.
Louco é aquele que tentar falar.
Mesmo sendo forte, tem-se que admitir:
saudade faz chorar; sua presença, sorrir.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Apenas viver . . .

Há momentos tão impressionantemente especiais que não existem palavras capazes de descrever a ínfima parte dessa grandiosidade. Acontecimentos que geram uma verdadeira mistura de sentimentos e sensações desafiando as mais sólidas convicções. É sempre desafiador vivenciar situações novas, sobretudo para alguém que age com a razão, colocando tudo em uma balança e decidindo matematicamente.
O que fazer, então, quando algo ou alguém “quebra a balança”? Podem vir muitas respostas à mente ou não vir resposta. A “insegurança” é tão grande que tudo parece não fazer sentido. Onde estão o chão seguro pelo qual caminhava e a estrada segura que conduziria a um futuro certo?
A verdade é que não existem mais o chão e a estrada. Preocupados – ao extremo – em não ter as melhores e mais certas respostas, deixamos de viver o presente, de vivenciar a situação em sua integralidade e reconhecer a verdade do momento. Portanto, vivamos com brilho nos olhos e de coração e mente abertos, sejamos nós! Busquemos e aceitemos a felicidade e suas múltiplas faces. A vida é muito maior que um mero conjunto de regras e viver é – sem dúvida – a maior das aventuras.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Quiseram matar um poeta

Tiraram as suas roupas,
deixaram os adjetivos.
Eles lhe emprestam sua vibração,
seu apoio e força.

Sacrificaram seus sonhos,
sobraram os advérbios,
que permitem suas bem
fundamentadas hipérboles.

Fecharam portas e janelas.
E os verbos? Ah! Os verbos . . .
Os verbos ficaram,
sem verbos não há vida.

Acabaram com tudo,
pisaram em suas ilusões.
Ainda há lápis e papel.
Poeta! Tu vives.

Seco e Vazio

Não há lágrimas nem saliva.
Sem sentimentos ou dores,
cabeça limpa,
sem pensamentos.

Pouca inspiração, minúscula emoção.
Sem ódio, sem amor.
Esquisita e cômica situação:
não há sangue nas veias.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Natural

A natureza é, indubitavelmente, uma inesgotável fonte de bons exemplos. Em sua essência, vida e morte se confundem; tornando perfeitas e únicas as relações. Algo, em particular, desperta curiosidade e encantamento: o encontro do Rio Amazonas com o Oceano Atlântico. Duzentos quilômetros depois da foz, há rio no oceano. O portentoso Atlântico aceita – amigavelmente – a existência do Amazonas em seus domínios: espetáculo magnífico. O homem, em sua limitação, apenas observa e admira; não concluindo, porém, que há a maestria do ceder (do servir) em uma lição como essa. Dois gigantes, em tamanho e importância, vivendo juntos sem conflitos e fundindo-se com harmonia.

domingo, 26 de junho de 2011

Onde ele está?

Muitas vezes dito;
poucas, sentido.
Uma pequena palavra:
somente quatro letras.

Um milhão de significados.
É possível fazê-lo?
Onde ele está?
Quem o criou?

São tantos questionamentos,
são muitas indagações.
Ninguém tem a resposta.
Por quê?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sentido de uma vida

Ele sempre acordava pela manhã pouco disposto para enfrentar o dia. Ficava por volta de dez minutos mexendo na cama, fazendo um enorme esforço para despertar. Quando finalmente encontrava as migalhas de ânimo necessárias para levantar, arrastava-se até o banheiro. A imagem refletida no espelho causava espanto, medo, dor – uma mistura de sentimentos e sensações inexplicável, algo distante do plano lógico. A água fria do banho, mesmo em manhãs de inverno, era imprescindível para despertar o corpo. Eram momentos terríveis, a certeza de que deveria sair de casa e ir trabalhar o atormentava. Sentia uma imensa vontade – uma necessidade – de ficar em seu quarto com as densas cortinas fechadas, sem luz, embaixo dos cobertores, sozinho.
Nada o incomodava tanto quanto o sol e os jardins floridos do caminho. Os óculos escuros ajudavam na difícil trajetória de dois quilômetros entre a casa e o trabalho. Além de não permitirem a ação impactante da claridade, funcionavam como um disfarce: ele poderia fingir não ver as pessoas e não ter que cumprimentá-las.
No trabalho, as coisas eram muito mais dolorosas. Vinte por cento dos funcionários do setor tinham pouca ou nenhuma experiência, uma vez que eram recém-contratados. A penosa função dele era treinar essas pessoas, cheias de ânimo e perguntas, forçando-o a socializar. O sorriso cheio de dentes de alguns era um martírio. Vinha-lhe uma pergunta à cabeça: “Por que as pessoas são tão felizes?”
A manhã de trabalho arrastava-se, a hora do almoço era um alívio, ficaria mais de uma hora distante daqueles muito animados novos colegas. Só não era melhor, porque o cheiro de feijão bem temperado e a carne vermelha assada não tinham significado. Um ovo cozido, duas colheres de arroz branco e repolho cru picado eram suficientes. Após o almoço, uma xícara de café e três cigarros o animavam, eram o sinal de que o dia estava com as horas contadas. A tarde era menos desagradável, ele ficava só numa sala ampla, com pouca ventilação. Poderia, em meio a tantos papéis e carimbos, encontrar-se. Ficar só: era disso que ele precisava.
Finalmente, dezoito horas. Hora de voltar para casa. Alguns outros tantos iriam se esbaldar no bar ao lado do trabalho. Ele não, seu único pensamento era a cama, o travesseiro e os velhos sonhos afogados em lágrimas.